
As três palavras aparecem no penúltimo parágrafo da nota divulgada pouco depois de encerrada a reunião no BC. "O Copom", informa o comunicado, "avalia que cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária, inclusive diante de cenários voláteis, têm sido úteis na perseguição de seu objetivo precípuo de manter a trajetória da inflação em direção às metas."
A manutenção da Selic em 6,50% era apontada como certa pela maioria das fontes do mercado. Não houve surpresa, portanto, nessa decisão, mas surgiram detalhes novos na avaliação do cenário de riscos e na ênfase atribuída às condições de uma política segura.
Riscos associados à elevação de juros nas economias avançadas, especialmente nos Estados Unidos, perderam peso, segundo a análise resumida no comunicado. Dirigentes do Federal Reserve, o banco central americano, indicaram há pouco tempo a disposição de avançar mais lentamente no aperto das condições de crédito. Isso diminui o perigo de turbulências cambiais e de pressões inflacionárias associadas à valorização do dólar. Em contrapartida, riscos ligados a uma desaceleração da economia global tornaram-se mais importantes, de acordo com a análise do Copom. Disputas comerciais e incertezas quanto ao Brexit (o divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia) estão entre os fatores inquietantes.
Mas um grande peso é atribuído também a um perigo interno: uma frustração de expectativas quanto a ajustes e reformas "pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária".
Ao insistir nessa advertência, já apresentada em outros informes, os membros do Copom lembram a importância de manter a confiança de investidores, empresários e consumidores no avanço das mudanças necessárias à recuperação da economia. O conserto das finanças públicas é item de máxima prioridade nessa agenda.
O tombo do mercado de ações na própria quarta-feira, quando surgiram temores de uma reforma da Previdência mais lenta do que previam investidores operadores da Bolsa, é um bom exemplo dessa sensibilidade. Esses investidores podiam estar errados em sua concepção de como a reforma deve tramitar, mas a queda de 3,74% do Ibovespa vale como um lembrete para o governo e para seus aliados.
A insistência em cautela, serenidade e perseverança, termos já usados num relatório de inflação, é um recado importante para os novos componentes do Copom. Combina com a defesa persistente de uma "política monetária estimulativa", isto é, com juros abaixo da taxa estrutural e favoráveis à expansão dos negócios.
Mas a mensagem é mais ampla e destinada também à equipe de governo. Parte do recado é implícita: juros mais baixos, só quando o ajuste estiver avançado, com a reforma garantida, e o risco de inflação for bem menor. A parte explícita é igualmente importante: o Copom pode ajudar o governo em sua tarefa, mantendo os juros atuais ainda por um bom tempo, mas só a ação efetiva do governo e de seus aliados poderá preservar a confiança do mercado. Falta ver se a mensagem será entendida.
Fonte: Udop, com informações de O Estado de S.Paulo (editorial)